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Artigos Científicos

Pesquisa inédita revela sons de identidade individual de golfinhos em mar aberto

Cientistas da ONG brasileira Ocean Sound estudaram os sons dos golfinhos-nariz-de-garrafa no Oceano Pacífico no México

Roger Marza

Uma pesquisa inédita da Organização Não-Governamental (ONG) brasileira Ocean Sound realizada no Oceano Pacífico, no Arquipélago de Revillagigedo, no México, gravou sons de golfinhos-nariz-de-garrafa em alto mar e identificou, pela primeira vez na história dos estudos acústicos desses animais no oceano profundo, que eles emitem sons de identidade individual que são únicos, chamados de assobios-assinatura.

Os resultados da pesquisa, liderada pelo veterinário Raul Rio Ribeiro, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenador da ONG, foram publicados no dia 03 de março de 2022 na revista científica Marine Mammal Science.

(https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/mms.12921).

Em uma análise preliminar, os golfinhos do mar profundo emitem assobios-assinatura diferentes daqueles transmitidos por animais costeiros, mas novos estudos precisam ser realizados. A pesquisa pode colaborar com políticas públicas de proteção a esses animais.

“Escolhemos estudar os golfinhos nessa região porque é uma área protegida, um arquipélago de exuberante e rara vida marinha, sem nenhuma publicação científica anterior acerca de sua população de golfinhos, absolutamente desconhecida para a ciência”, explica Rio Ribeiro que, em companhia de mais 12 mergulhadores, passou sete dias em um navio de 35 metros no mar entre 28 de dezembro de 2020 a 3 de janeiro de 2021, a fim de captar esses sons. Apesar de as águas da região superarem os 3 mil metros de profundidade, os gravadores foram posicionados a cinco metros. Rio Ribeiro também estuda os sons dos golfinhos rotadores de Fernando de Noronha desde 2021, no projeto Ocean Sound Secrets.

“Além de ser área protegida, desde que foi identificada a existência de assobios-assinatura, há mais de 50 anos, esse sinal acústico importante na ecologia desses animais jamais havia sido registrado em golfinhos oceânicos, qualquer que fosse a espécie considerada, somente em populações costeiras. Foi quando a Ocean Sound teve a felicidade de registrar e publicar, pela primeira vez, esse estudo”, explica o cientista.

A pesquisa foi realizada próxima a três das quatro ilhas do arquipélago, São Benedito, Ilha do Socorro e Roca Partida, localizadas a aproximadamente 390 km a sudoeste da ponta sul da Península de Baja Califórnia e 720 km a oeste do México continental. O hidrofone registrou mais de 63 horas de gravação, na qual foram captados 233 assobios de golfinhos. Destes, 98 foram identificados como assobios-assinatura. Segundo Rio Ribeiro, o assobio-assinatura para os golfinhos costuma ser comparado ao nome das pessoas para os humanos. No entanto, é muito mais que isso, pois ao mesmo tempo em que transmite informação pessoal, comunica ainda a exata posição no oceano e, potencialmente, o estado emocional de quem o emite.

“Esses assobios-assinatura são sinais acústicos individualizados que chegam a representar mais de 50% dos assobios de golfinhos costeiros e, agora com nossa pesquisa podemos afirmar, dos oceânicos também. O golfinho desde jovem cria esse som com base em sua perspectiva social e o emite como forma de manifestar sua identidade, mas não apenas isso. É um sinal acústico com modulações de frequência únicas, o que é fundamental na ecologia de animais sociáveis, gregários, acostumados a desempenhar suas atividades rotineiras de maneira coordenada e cooperada” explica Rio Ribeiro.

 

Para chegar ao número de assobios-assinatura, Rio Ribeiro contou com a equipe de cientistas da Ocean Sound Lúcia Piuma, João Piuma, Manoela Piuma e Liliam Hoffmann, do departamento de genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em estudos com golfinhos que desenvolve um projeto de pesquisa no Arquipélago São Pedro e São Paulo. Outros cientistas que participaram da pesquisa foram Hiram Rosales-Nanduca, da Universidade de Baixa Califórnia do Sul, e Guilherme S. Redecker, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

O trabalho da família Piuma foi realizar a validação externa da categorização dos assobios-assinatura identificados pelos pesquisadores por meio de comparações dos desenhos dos assobios-assinatura em espectrogramas. “Foram selecionados cinco assobios-assinatura e esses foram organizados em apresentações randomizadas contendo esses sinais e outras imagens acústicas que pertenciam a esta categoria, mas diferentes entre si”, explica Lúcia Piuma. “Juízes externos, sem ligação com o trabalho e sem nenhuma experiência prévia em bioacústica avaliaram e classificaram as imagens acústicas como sendo semelhantes em testes binários finais. Previamente os juízes passaram por testes em que o objetivo era pontuar em escala as imagens em maior ou menor semelhança em relação aos assobios-assinatura.”

Liliam Hoffmann explica que o som tem grande importância na comunicação dos golfinhos, em sua coesão social, e para isso é crucial que os animais se reconheçam uns aos outros. “A espécie de golfinho nariz-de-garrafa possui uma sociedade extremamente complexa, e os sons que eles emitem fazem parte dessa complexidade. A recente pesquisa foi realizada com golfinhos oceânicos, que ocorrem nas águas do Arquipélago de Revillagigedo, México, no Oceano Pacífico. Esse é o primeiro trabalho que estuda e descreve um dos sinais mais interessantes dessa espécie de golfinho: os assobios-assinatura. Este estudo ampliou o conhecimento prévio da espécie, abrindo portas para futuros estudos com outras populações, o que permite um maior entendimento sobre como esses animais se adaptam a estes ambientes offshore. É sabido que essa espécie possui uma extrema flexibilidade comportamental e ecológica, e estudos de bioacústica parecem estar revelando que esta capacidade adaptativa ocorre em níveis ainda mais elaborados, refletindo-se diretamente na comunicação acústica da espécie.

O estudo também abre novas possibilidades para o estudo da comparação dos sons dos animais que vivem no oceano profundo e os costeiros. Segundo Hoffmann, ambientes oceânicos possuem características ambientais e geomorfológicas diferentes de uma região próxima à costa. “Essas características influenciam diretamente na propagação da onda sonora. Em ambientes rasos, por exemplo, o som pode se atenuar ou refletir em obstáculos, no fundo ou na própria superfície, e isso ocorre com mais ênfase para determinadas frequências do sinal, porque diferentes frequências possuem diferentes comprimentos de onda. Por tanto, é de se esperar que os animais em regiões oceânicas, fundas e com menos turbidez, emitam sons com características diferentes, como assobios mais longos e modulados”, explica a cientista.

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